quinta-feira, dezembro 02, 2010
Oh, I'm a modern guy
Meu retorno já tinha data certa. Seria no último dia de outubro, exatamente seis meses depois de enfrentar o vôo mais entediante do século e as ferozes cinzas de um vulcão para, finalmente, desembarcar em solo irlandês. Os planos mudaram por um golpe de sorte. Dessas coisas que só a internet faz por você. Não me pergunte como cheguei naquele site, só lembro do banner de canto de página, quase sem destaque, anunciando um show do Walkmen no meio de novembro. Bem ali, no pub a trinta minutos de casa. Imperdível! Teresina acabava de ficar pelo menos quinze dias mais distante.
Esse meu lance com Walkmen começou de um jeito diferente. Primeiro veio uma frase e só bem depois rolou de ouvir a música. Explico: Nos idos de 2005/2006, a cena alternativa de Teresina vivia uma espécie de boom. [Nas proporções possíveis para uma cidade de porte médio onde o forró é trilha sonora quase obrigatória]. Durante esse período, várias bandas locais surgiram inspiradas no êxito dos Strokes, Interpol, YYY, White Stripes, Muse, Franz Ferdinand e outros grupos que pipocavam pelo mundo apostando no resgate do bom e velho rock oitentista e/ou nas mais variadas experimentações. O som que vem das garagens também ecoou na Chapada do Corisco e fez barulho. Nessa época, tive a oportunidade de ouvir coisas lindas saídas das guitarras e baquetas do pessoal da Tequinóizi, nelson theresa cafe, Bedtrip Clube, Lisbela, Atun, dentre outras bandas que acreditavam no trabalho autoral e recorriam ao próprio bolso para organizar seus festivais.
Um desses eventos conjuntos aconteceu no Burguer Monstro, lanchonete pé sujo que merecia um texto a parte [Os caras vendiam hamburger ao preço de um real, o problema é que às vezes - geralmente quando sua fome era maior - acabava o pão]. O céu desabava em Teresina e um rio quase intransponível se formou na rua em frente ao lugar. Ultrapassada a barreira da água, vi o nome da festa: “Oh, I'm a modern guy”, escrito em cartolina, bem na entrada. Gostei do nome, do som, da energia das bandas, do pequeno público que encarou a chuva sem arredar o pé e nunca mais esqueci aquela noite. É engraçado como alguns momentos grudam na sua cabeça como a perfeita representação de um tempo. Um ano depois, o vídeo de We've been had, uma das preciosidades criadas pelo Walkmen, caiu na minha mão e só então descobri de onde tinha saído a tal frase, primeiro verso da letra. Me apaixonei pela música e comecei a acompanhar o trabalho da banda. Mas, mesmo depois de ouvir vários álbuns, em diferentes situações, jamais consegui dissociar o som dos caras de Nova Iorque daquela noite chuvosa de indie rock em Teresina. Memórias auditivas podem ser bem desconexas.
E foi assim que, na minha última semana em Dublin, os primeiros acordes de uma música foram suficientes para me levar direto pra casa. Quando os rapazes do Walkmen subiram de novo naquele palco para o bis e lançaram as bases de We've been had, eu não só já estava em Teresina como tinha voltado para aquele ano de 2006, com lama no tênis, um copo de cerveja na mão e zero preocupação. Só deu tempo de sussurrar um "thank you" de canto de boca para a banda antes de curtir cada segundo da viagem. Uma linda despedida de Dublin.
Ps: O triste de toda essa história é que quase nenhuma das bandas paridas em Teresina naquela época persiste até hoje. [Uns muitos integrantes foram embora da cidade, outros largaram a música ou engrenaram novos projetos e vida que segue]. Por causa disso e de toda a vibe independente da coisa é bem difícil achar gravações "limpas" de algumas dessas bandas. Mas quem ouviu e viveu esse tempo sabe o quanto o pessoal era muito bom. Aos interessados, deixo vídeo da BedTrip Clube e o myspace da Atun, que não tem, nem de longe, as melhores músicas da banda, mas já dá pra sacar alguma coisa. Pra quem tá em Teresina, a Atun volta à ativa dia 10 de dezembro, no Raízes.
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3 comentários:
Ah aquele dia, em que as pessoas tocavam em cima de pedaços de madeira pra não pegarem choque (e quando ainda chovia em Teresina). Bom e velho Burguer Monstro.
Bom e velho Burguer Monstro, uma lanchonete onde faltava pão. Fantástico.
kkkkkkkkkk
E já avisando que o edson não vai pra esse show da Atun, ne? ahahuauhahuhau
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