Da Minha Cabeça Brotam Borboletas
quinta-feira, dezembro 02, 2010
Oh, I'm a modern guy
Meu retorno já tinha data certa. Seria no último dia de outubro, exatamente seis meses depois de enfrentar o vôo mais entediante do século e as ferozes cinzas de um vulcão para, finalmente, desembarcar em solo irlandês. Os planos mudaram por um golpe de sorte. Dessas coisas que só a internet faz por você. Não me pergunte como cheguei naquele site, só lembro do banner de canto de página, quase sem destaque, anunciando um show do Walkmen no meio de novembro. Bem ali, no pub a trinta minutos de casa. Imperdível! Teresina acabava de ficar pelo menos quinze dias mais distante.
Esse meu lance com Walkmen começou de um jeito diferente. Primeiro veio uma frase e só bem depois rolou de ouvir a música. Explico: Nos idos de 2005/2006, a cena alternativa de Teresina vivia uma espécie de boom. [Nas proporções possíveis para uma cidade de porte médio onde o forró é trilha sonora quase obrigatória]. Durante esse período, várias bandas locais surgiram inspiradas no êxito dos Strokes, Interpol, YYY, White Stripes, Muse, Franz Ferdinand e outros grupos que pipocavam pelo mundo apostando no resgate do bom e velho rock oitentista e/ou nas mais variadas experimentações. O som que vem das garagens também ecoou na Chapada do Corisco e fez barulho. Nessa época, tive a oportunidade de ouvir coisas lindas saídas das guitarras e baquetas do pessoal da Tequinóizi, nelson theresa cafe, Bedtrip Clube, Lisbela, Atun, dentre outras bandas que acreditavam no trabalho autoral e recorriam ao próprio bolso para organizar seus festivais.
Um desses eventos conjuntos aconteceu no Burguer Monstro, lanchonete pé sujo que merecia um texto a parte [Os caras vendiam hamburger ao preço de um real, o problema é que às vezes - geralmente quando sua fome era maior - acabava o pão]. O céu desabava em Teresina e um rio quase intransponível se formou na rua em frente ao lugar. Ultrapassada a barreira da água, vi o nome da festa: “Oh, I'm a modern guy”, escrito em cartolina, bem na entrada. Gostei do nome, do som, da energia das bandas, do pequeno público que encarou a chuva sem arredar o pé e nunca mais esqueci aquela noite. É engraçado como alguns momentos grudam na sua cabeça como a perfeita representação de um tempo. Um ano depois, o vídeo de We've been had, uma das preciosidades criadas pelo Walkmen, caiu na minha mão e só então descobri de onde tinha saído a tal frase, primeiro verso da letra. Me apaixonei pela música e comecei a acompanhar o trabalho da banda. Mas, mesmo depois de ouvir vários álbuns, em diferentes situações, jamais consegui dissociar o som dos caras de Nova Iorque daquela noite chuvosa de indie rock em Teresina. Memórias auditivas podem ser bem desconexas.
E foi assim que, na minha última semana em Dublin, os primeiros acordes de uma música foram suficientes para me levar direto pra casa. Quando os rapazes do Walkmen subiram de novo naquele palco para o bis e lançaram as bases de We've been had, eu não só já estava em Teresina como tinha voltado para aquele ano de 2006, com lama no tênis, um copo de cerveja na mão e zero preocupação. Só deu tempo de sussurrar um "thank you" de canto de boca para a banda antes de curtir cada segundo da viagem. Uma linda despedida de Dublin.
Ps: O triste de toda essa história é que quase nenhuma das bandas paridas em Teresina naquela época persiste até hoje. [Uns muitos integrantes foram embora da cidade, outros largaram a música ou engrenaram novos projetos e vida que segue]. Por causa disso e de toda a vibe independente da coisa é bem difícil achar gravações "limpas" de algumas dessas bandas. Mas quem ouviu e viveu esse tempo sabe o quanto o pessoal era muito bom. Aos interessados, deixo vídeo da BedTrip Clube e o myspace da Atun, que não tem, nem de longe, as melhores músicas da banda, mas já dá pra sacar alguma coisa. Pra quem tá em Teresina, a Atun volta à ativa dia 10 de dezembro, no Raízes.
domingo, outubro 10, 2010
Dublin convida para um passeio
Quem me conhece confirma: o sedentarismo é parte [quase] indissociável do meu estilo de vida. Até procuro estar bem informada sobre as últimas notícias do esporte, gosto de assistir e falar sobre futebol, mas não sei o que é entrar em uma quadra de seja lá o que for desde o longínquo ano de 2001, quando finalmente fui liberada dos horrores da Educação Física obrigatória e, por conseqüência, tive de abandonar o posto de goleira do time da escola. De lá para cá, venho mantendo a honrosa escrita de não colocar os pés em uma academia. Do alto dos meus 25 anos, posso afirmar que nunca sentei em nada remotamente parecido com um aparelho de musculação.
Isto posto, preciso admitir que estou completamente viciada nessa coisa de caminhar. Começou por uma necessidade. Depois de anos de quase simbiose com meu corsinha 1999, me vi em uma cidade nova, sem carro e sem dinheiro suficiente para bancar o táxi. Dublin tem pouco mais de 1 milhão de habitantes, mas o coração da capital - seu centro comercial e etílico - ocupa um perímetro de cerca de 10km, talvez nem isso. Basicamente, quando se mora nos arredores do City Centre [o que a maioria dos imigrantes trata logo de conseguir] é possível chegar a todos os lugares que interessam a pé, sem nem precisar recorrer a ônibus. Assim fiz.
No início não foi exatamente fácil. Além da total ausência do hábito de caminhar por “longas distâncias” [No meu caso, qualquer coisa acima de, sei lá, dois quilômetros], o corpo ainda precisava se acostumar ao frio. Lembro bem que minha primeira tentativa de dar uns rolês pelo Centro teve de ser abortada após pouquíssimos metros, quando fui derrotada pelo vento gelado e elegi uma livraria como refúgio. Mas, se há alguma verdade no mundo, esta é a de que os humanos adaptam-se a tudo. Ao ponto de eu, teresinense nascida e criada na capital mais quente do Brasil, me ouvir reclamar do calor diante de uma máxima de 20 graus [Há de chegar o dia em que serei castigada por tamanha heresia]. Depois que, obviamente, o frio deixou de ser um problema, minhas idas ao supermercado começaram a ter cada vez novos e mais longos desvios.
Dias de sol em Dublin exigem uma caminhada. Sob o céu azul e deserto de nuvens, a cidade exibe seus pormenores. Enquanto caminho, o Centro surge, aos poucos, expondo sua desordem de gente, línguas, prédios modernosos e construções milenares. Toda a dicotomia que envolve a velha e a nova Irlanda escancarada na convivência entre igrejas luxuosas e fachadas envidraçadas. No encontro entre os passos ágeis dos idosos e o vai-e-vem de imigrantes que só começaram a desembarcar por aqui a coisa de dez anos atrás. E é tudo tão vivo, cheio de cor e música. Música que parece brotar dos muros, vinda não se sabe de onde, até você dobrar a esquina certa e dar de cara com uma banda de rock tocando irish music no meio da rua, praticamente entre os carros. Ouvir a tradicional música viking agora reproduzida pelo barulho das guitarras elétricas dá a noção exata dessa mistura louca de sons, cores e tradições que torna Dublin o que ela é. Com tantas coisas para ver e sentir, os quilômetros acumulam-se, imperceptíveis. Entre passos, me apercebi irreversivelmente apaixonada por essa cidade, que à primeira vista exibe uma face cinza e decadente, mas guarda um mundo sem fim de sorrisos surpresos para os que mantêm olhares mais atentos.
E eu, que carrego o sedentarismo na veia, há semanas não consigo recusar os convites de Dublin para mais um passeio.
Isto posto, preciso admitir que estou completamente viciada nessa coisa de caminhar. Começou por uma necessidade. Depois de anos de quase simbiose com meu corsinha 1999, me vi em uma cidade nova, sem carro e sem dinheiro suficiente para bancar o táxi. Dublin tem pouco mais de 1 milhão de habitantes, mas o coração da capital - seu centro comercial e etílico - ocupa um perímetro de cerca de 10km, talvez nem isso. Basicamente, quando se mora nos arredores do City Centre [o que a maioria dos imigrantes trata logo de conseguir] é possível chegar a todos os lugares que interessam a pé, sem nem precisar recorrer a ônibus. Assim fiz.
No início não foi exatamente fácil. Além da total ausência do hábito de caminhar por “longas distâncias” [No meu caso, qualquer coisa acima de, sei lá, dois quilômetros], o corpo ainda precisava se acostumar ao frio. Lembro bem que minha primeira tentativa de dar uns rolês pelo Centro teve de ser abortada após pouquíssimos metros, quando fui derrotada pelo vento gelado e elegi uma livraria como refúgio. Mas, se há alguma verdade no mundo, esta é a de que os humanos adaptam-se a tudo. Ao ponto de eu, teresinense nascida e criada na capital mais quente do Brasil, me ouvir reclamar do calor diante de uma máxima de 20 graus [Há de chegar o dia em que serei castigada por tamanha heresia]. Depois que, obviamente, o frio deixou de ser um problema, minhas idas ao supermercado começaram a ter cada vez novos e mais longos desvios.
Dias de sol em Dublin exigem uma caminhada. Sob o céu azul e deserto de nuvens, a cidade exibe seus pormenores. Enquanto caminho, o Centro surge, aos poucos, expondo sua desordem de gente, línguas, prédios modernosos e construções milenares. Toda a dicotomia que envolve a velha e a nova Irlanda escancarada na convivência entre igrejas luxuosas e fachadas envidraçadas. No encontro entre os passos ágeis dos idosos e o vai-e-vem de imigrantes que só começaram a desembarcar por aqui a coisa de dez anos atrás. E é tudo tão vivo, cheio de cor e música. Música que parece brotar dos muros, vinda não se sabe de onde, até você dobrar a esquina certa e dar de cara com uma banda de rock tocando irish music no meio da rua, praticamente entre os carros. Ouvir a tradicional música viking agora reproduzida pelo barulho das guitarras elétricas dá a noção exata dessa mistura louca de sons, cores e tradições que torna Dublin o que ela é. Com tantas coisas para ver e sentir, os quilômetros acumulam-se, imperceptíveis. Entre passos, me apercebi irreversivelmente apaixonada por essa cidade, que à primeira vista exibe uma face cinza e decadente, mas guarda um mundo sem fim de sorrisos surpresos para os que mantêm olhares mais atentos.
E eu, que carrego o sedentarismo na veia, há semanas não consigo recusar os convites de Dublin para mais um passeio.
quinta-feira, setembro 16, 2010
Admirável Mundo Novo
Quais são as personalidades mais famosas em todo o mundo atualmente? Diante da pergunta, a turma de pouco mais de 20 alunos começa a discutir entre si. No meu grupo, formado por uma brasileira, uma chilena e dois chineses, o nome da celebridade feminina vem rápido: Madonna ganha por unanimidade. Mas na hora de escolher a personalidade masculina, surge o impasse. “Barack Obama?”, sugere a chilena, no que é prontamente acompanhada por mim. “O que você acha, Cheng Yu Fong?” O chinês titubeia e por fim responde: “I don´t know, maybe Karl Marx”.
Pois é. O regime ditatorial chinês fechou os olhos do meu colega para inúmeras mudanças políticas ao redor do mundo. O tempo de Karl Marx passou, o capitalismo venceu e a juventude antenada está muito mais interessada em conhecer os últimos lançamentos da Apple do que em discutir reforma agrária. Mas se o isolamento o impediu de acompanhar muitas transformações mundiais, também permitiu que ele escapasse da quase onipresente influência norte-americana [aparentemente, apenas Madonna venceu a resistência].
Ser imune ao way of life americano não é necessariamente bom, mas incomum, especialmente para quem, como eu, já acumula um vasto histórico de convivência com Pernalongas, Tarantinos e Mickey Mouses da vida. É um jeito de compreender o mundo com o qual eu nunca tinha me deparado antes. Fato é que a barreira do diferente aparece rápido quando se decide colocar uma mochila nas costas e abandonar a própria zona de conforto. O lance é saber o quão disposto você está a escancarar a coisa toda e enxergar o lado de lá.
Imagine uma realidade onde quase todas as referências de “cultura pop” que você vem acumulando desde criança não têm qualquer significado. É assim que me sinto quando estou conversando com muitos africanos e orientais. Certa vez, em outra brincadeira em sala de aula, uma amiga da Malásia revelou nunca ter ouvido falar em Jurassic Park. A assustadora ilha de dinossauros que tanto marcou minha infância não tinha nem mesmo existido para ela. Outra surpresa geral para a turma do ocidente quando, noutro dia, alguns colegas admitiram não saber quem é Mick Jagger. “O vocalista da Rolling Stones, a banda de rock”, ainda tentaram alguns, sem qualquer sucesso.
No início é impossível não se perguntar onde diabos essas pessoas estavam trancafiadas enquanto a história acontecia ao nosso redor. Mas em pouco tempo me dei conta de que também não sei absolutamente nada sobre a música pop que faz ferver as pistas de Hong Kong ou sobre os atores que fazem o cinema chinês acontecer. Assim como também sei muito pouco sobre Budismo, Taoísmo, Ramadã ou história política da Tailândia, só para citar alguns exemplos. Então vem a percepção de que é tudo uma troca. O mundo ocidental cristão é um pedaço e não o todo. Uma idéia que parece óbvia, mas na prática nem sempre o é, principalmente se você nunca tem a oportunidade de conviver com o tal do "diferente". Diferente pra quem?
Todo esse papo me fez lembrar um texto que li outro dia. Falava sobre pessoas que vivem em bolhas. Uma alegoria sobre a dificuldade de perceber o mundo sob outras perspectivas que não as que nos são impostas pelo cotidiano. É bem por aí. O grande exercício diário de romper com a sua própria bolha. Estamos trabalhando nisso.
Pois é. O regime ditatorial chinês fechou os olhos do meu colega para inúmeras mudanças políticas ao redor do mundo. O tempo de Karl Marx passou, o capitalismo venceu e a juventude antenada está muito mais interessada em conhecer os últimos lançamentos da Apple do que em discutir reforma agrária. Mas se o isolamento o impediu de acompanhar muitas transformações mundiais, também permitiu que ele escapasse da quase onipresente influência norte-americana [aparentemente, apenas Madonna venceu a resistência].
Ser imune ao way of life americano não é necessariamente bom, mas incomum, especialmente para quem, como eu, já acumula um vasto histórico de convivência com Pernalongas, Tarantinos e Mickey Mouses da vida. É um jeito de compreender o mundo com o qual eu nunca tinha me deparado antes. Fato é que a barreira do diferente aparece rápido quando se decide colocar uma mochila nas costas e abandonar a própria zona de conforto. O lance é saber o quão disposto você está a escancarar a coisa toda e enxergar o lado de lá.
Imagine uma realidade onde quase todas as referências de “cultura pop” que você vem acumulando desde criança não têm qualquer significado. É assim que me sinto quando estou conversando com muitos africanos e orientais. Certa vez, em outra brincadeira em sala de aula, uma amiga da Malásia revelou nunca ter ouvido falar em Jurassic Park. A assustadora ilha de dinossauros que tanto marcou minha infância não tinha nem mesmo existido para ela. Outra surpresa geral para a turma do ocidente quando, noutro dia, alguns colegas admitiram não saber quem é Mick Jagger. “O vocalista da Rolling Stones, a banda de rock”, ainda tentaram alguns, sem qualquer sucesso.
No início é impossível não se perguntar onde diabos essas pessoas estavam trancafiadas enquanto a história acontecia ao nosso redor. Mas em pouco tempo me dei conta de que também não sei absolutamente nada sobre a música pop que faz ferver as pistas de Hong Kong ou sobre os atores que fazem o cinema chinês acontecer. Assim como também sei muito pouco sobre Budismo, Taoísmo, Ramadã ou história política da Tailândia, só para citar alguns exemplos. Então vem a percepção de que é tudo uma troca. O mundo ocidental cristão é um pedaço e não o todo. Uma idéia que parece óbvia, mas na prática nem sempre o é, principalmente se você nunca tem a oportunidade de conviver com o tal do "diferente". Diferente pra quem?
Todo esse papo me fez lembrar um texto que li outro dia. Falava sobre pessoas que vivem em bolhas. Uma alegoria sobre a dificuldade de perceber o mundo sob outras perspectivas que não as que nos são impostas pelo cotidiano. É bem por aí. O grande exercício diário de romper com a sua própria bolha. Estamos trabalhando nisso.
quinta-feira, setembro 09, 2010
Sobre o tempo
Para ler ao som de Janis
Em Dublin, ninguém está parado. Há pressa por todos os lados e cada calçada parece integrar o percurso de alguma mini maratona. Não sei exatamente qual a razão para tanta ansiedade [ o frio poderia ser uma explicação aceitável], mas a verdade é que quase diariamente me vejo ultrapassada por alguma velhinha sexagenária enquanto caminho a passos tranqüilos para a escola. Essa correria cega, tão presente nas ruas da cidade, se transfere também para os relacionamentos. Por aqui, amizade acontece de um jeito diferente.
Todo o protocolo conhecido e registrado em memória para estabelecer o que se definiria como “amigo” precisa ser revisto e drasticamente reduzido ao primeiro sinal de que não há tempo a perder. Em Dublin, ninguém está parado e as despedidas se multiplicam. O ciclo de chegadas e partidas é mesmo interminável, a solidão bate forte para todos e um time de futebol ou aquela banda preferida em comum podem ser motivo suficiente para alguém colar em você.
No fim de julho a turma da escola organizou um passeio para o Festival of World Cultures em Dun Laoghaire, um pequeno centro no entorno de Dublin. O nome do festival era bem condizente com o nosso grupo, uma reunião de gente de diferentes países tendo o inglês democraticamente estabelecido como língua oficial. Os poucos tropeços na comunicação não impediram ninguém de aproveitar o sábado de sol, clima agradável que era comemorado como conquista de campeonato pelos locutores do evento. A ida a Dun Laoghaire me apresentou a espanhola Maria, estudante de Medicina que sofre de uma séria antipatia por moradores de Barcelona e, ao contrário do que o senso comum poderia imaginar, detesta paella. Também tinha o Jerzy, polonês boa praça que desanca a idéia de frieza e distanciamento que costumamos associar às pessoas do Leste Europeu. Magalie era nossa ponta africana no grupo. Cidadã belga, os pais abandonaram o Congo antes do seu nascimento. Apesar da formação em Serviço Social, ela gostaria mesmo era de trabalhar com literatura infantil. E havia o brasileiro, claro. Icamaan é um soteropolitano radicado em Recife e com um orgulho de ser nordestino que é coisa bonita de se ver.
Dia desses uma fotografia levou-me de volta ao nosso sábado de sol em Dun Laoghaire e só então percebi que, em pouco menos de um mês, já me despedi de todos os meus companheiros de viagem. Nosso momento passou e, sem querer subestimar essa coisa linda chamada Facebook, as chances de eu encontrar quaisquer dessas pessoas novamente são quase inexistentes. E aí que entra o lance do tempo, palavrinha chave nesse texto. Quando se está em trânsito, com prazo vencendo e passagem marcada para voltar à vida real, você aprende a valorizar essa coisa de encontro e de troca, de riso e de empatia. É o get it while you can, baby, porque o tempo não pára.
Semana passada, mais uma despedida. Chegou a vez do Benjamin, francês com quem dividi apartamento por mais de três meses e que compartilhava comigo o gosto por cinema e pelos escritos de George Orwell. Na hora do adeus, um abraço e os desejos de “Have a good life”. E a vida que segue, já com um novo flatmate devidamente instalado em seu lugar. Em novembro, Teresina fica mais perto e será a minha hora de dizer adeus, bye bye so long far well. A roda continua a girar.
Em Dublin, ninguém está parado. Há pressa por todos os lados e cada calçada parece integrar o percurso de alguma mini maratona. Não sei exatamente qual a razão para tanta ansiedade [ o frio poderia ser uma explicação aceitável], mas a verdade é que quase diariamente me vejo ultrapassada por alguma velhinha sexagenária enquanto caminho a passos tranqüilos para a escola. Essa correria cega, tão presente nas ruas da cidade, se transfere também para os relacionamentos. Por aqui, amizade acontece de um jeito diferente.
Todo o protocolo conhecido e registrado em memória para estabelecer o que se definiria como “amigo” precisa ser revisto e drasticamente reduzido ao primeiro sinal de que não há tempo a perder. Em Dublin, ninguém está parado e as despedidas se multiplicam. O ciclo de chegadas e partidas é mesmo interminável, a solidão bate forte para todos e um time de futebol ou aquela banda preferida em comum podem ser motivo suficiente para alguém colar em você.
No fim de julho a turma da escola organizou um passeio para o Festival of World Cultures em Dun Laoghaire, um pequeno centro no entorno de Dublin. O nome do festival era bem condizente com o nosso grupo, uma reunião de gente de diferentes países tendo o inglês democraticamente estabelecido como língua oficial. Os poucos tropeços na comunicação não impediram ninguém de aproveitar o sábado de sol, clima agradável que era comemorado como conquista de campeonato pelos locutores do evento. A ida a Dun Laoghaire me apresentou a espanhola Maria, estudante de Medicina que sofre de uma séria antipatia por moradores de Barcelona e, ao contrário do que o senso comum poderia imaginar, detesta paella. Também tinha o Jerzy, polonês boa praça que desanca a idéia de frieza e distanciamento que costumamos associar às pessoas do Leste Europeu. Magalie era nossa ponta africana no grupo. Cidadã belga, os pais abandonaram o Congo antes do seu nascimento. Apesar da formação em Serviço Social, ela gostaria mesmo era de trabalhar com literatura infantil. E havia o brasileiro, claro. Icamaan é um soteropolitano radicado em Recife e com um orgulho de ser nordestino que é coisa bonita de se ver.
Dia desses uma fotografia levou-me de volta ao nosso sábado de sol em Dun Laoghaire e só então percebi que, em pouco menos de um mês, já me despedi de todos os meus companheiros de viagem. Nosso momento passou e, sem querer subestimar essa coisa linda chamada Facebook, as chances de eu encontrar quaisquer dessas pessoas novamente são quase inexistentes. E aí que entra o lance do tempo, palavrinha chave nesse texto. Quando se está em trânsito, com prazo vencendo e passagem marcada para voltar à vida real, você aprende a valorizar essa coisa de encontro e de troca, de riso e de empatia. É o get it while you can, baby, porque o tempo não pára.
Semana passada, mais uma despedida. Chegou a vez do Benjamin, francês com quem dividi apartamento por mais de três meses e que compartilhava comigo o gosto por cinema e pelos escritos de George Orwell. Na hora do adeus, um abraço e os desejos de “Have a good life”. E a vida que segue, já com um novo flatmate devidamente instalado em seu lugar. Em novembro, Teresina fica mais perto e será a minha hora de dizer adeus, bye bye so long far well. A roda continua a girar.
terça-feira, agosto 03, 2010
Estrangeira entre brasileiros
Não tenho uma estatística precisa, mas poderia afirmar com convicção que pelo menos 80% dos brasileiros vivendo em Dublin nasceram em São Paulo ou no Sul do país. Isso faz de mim praticamente uma estrangeira entre os brasileiros que conheço por aqui. E digo isso sem o menor exagero.
Pela primeira vez enfrentando a rotina longe da minha terra, comprovo quase todos os dias que a maioria das pessoas ainda considera surpreendente encontrar uma nordestina estudando no exterior. Quando falo que sou de Teresina, então, a exclamação é geral. “Nossa, do Piauí?!”. Pois é, do Piauí e com muito orgulho. E para sua informação, não, minha cidade não tem praia.
Esses meses de convivência com gaúchos e paulistas me mostraram que para muita gente o Nordeste continua sendo um mistério – mistério este que muitos não fazem a menor questão de desvendar. Sabe aquela descrição padrão dos estrangeiros para o Brasil? “Carnaval, caipirinha, Flamengo...”, pois na visão distorcida de alguns bra-si-lei-ros, toda a variedade cultural que diferencia Recife de Salvador ou São Luís de Teresina não passa de um bolo homogêneo, uma mistura de axé, forró, praias, sotaque engraçado e Dança da Bicicletinha, ofuscada sempre pela sombra da pobreza e da seca. É realmente difícil escapar de séculos de cobertura midiática negativa.
A vida no Nordeste de hoje é bem diferente da descrita em Os Sertões de Euclides da Cunha, livro reportagem de 1902. Há pobreza, sim, como há, ao seu modo, em todo o país. Mas há também guitarra, asfalto, esporte, turismo, indústria, música e internet. Como disse muito bem Karina Buhr nesse texto aqui, os brasileiros precisam descobrir os Nordestes, pois são vários e são lindos. A região tem previsão de crescimento de 7,5% no seu PIB para esse ano e sempre foi fonte de muita boa música, comida e literatura. Mesmo assim, a velha mídia encontra dificuldades em fugir do já sedimentado discurso de “pobreza e seca”, agora com variação para as enchentes.
No começo deste ano a Sportv fez um especial de uma semana com a judoca piauiense Sarah Menezes. A jovem de 19 anos foi eleita atleta brasileira do ano de 2009 depois de se sagrar Bicampeã Mundial Júnior de Judô sem nunca ter precisado sair de Teresina para treinar. Tinha tudo para ser uma vitrine positiva para a cidade, mas a repórter faz questão de iniciar a matéria com a idéia de que “em uma terra onde a pobreza e a fome dominam, Sarah Menezes resistiu e conseguiu vencer”. A menina é tratada quase como uma sobrevivente, uma espécie de milagre. Não são exatamente essas palavras, mas a mensagem é essa. Mensagem que beira o preconceito, diga-se de passagem. Se Sarah permanece em Teresina é porque a cidade lhe oferece condições para tal e não por algum tipo de concessão divina. Desse jeito fica difícil fugir dos estereótipos e fazer um cara do Sul, que só conhece o Nordeste pela televisão, entender que Teresina tem seus vários defeitos, mas também tem inúmeras qualidades, da mesma forma que imagino acontecer com Porto Alegre, Curitiba ou Florianópolis, mesmo sem nunca ter visitado essas capitais.
Às vezes me questiono se algum dia o Brasil vai de fato atingir uma unidade nacional. Fora a língua, a seleção de futebol e as referências comuns de quem cresceu assistindo a Rede Globo, o que mais une os brasileiros? Na minha primeira semana em Dublin conheci um gaúcho que defendia a separação do Rio Grande do Sul do restante do país, pois seu estado seria muito mais desenvolvido e pacífico que os demais. Ele falava sobre os casos de violência no Rio de Janeiro como se fosse um estrangeiro, aquilo não era problema dele. No meu segundo mês por aqui conheci uma paraense de Belém radicada em Fortaleza. A identificação foi imediata. Não havia pré-julgamentos ou surpresas. Ela pertencia ao mesmo Brasil que eu. É estranho dizer isso, mas foi essa a sensação.
Ps: Esse texto foge de qualquer generalização e é retrato de uma experiência pessoal. Da mesma forma que conheci gaúchos separatistas e muita gente bastante preconceituosa com nordestinos também conheci paulistas, gaúchos, paranaenses, mineiros, pernambucanos, enfim, brasileiros maravilhosos, curiosos e interessados em aprender mais sobre o Brasil. .
Pela primeira vez enfrentando a rotina longe da minha terra, comprovo quase todos os dias que a maioria das pessoas ainda considera surpreendente encontrar uma nordestina estudando no exterior. Quando falo que sou de Teresina, então, a exclamação é geral. “Nossa, do Piauí?!”. Pois é, do Piauí e com muito orgulho. E para sua informação, não, minha cidade não tem praia.
Esses meses de convivência com gaúchos e paulistas me mostraram que para muita gente o Nordeste continua sendo um mistério – mistério este que muitos não fazem a menor questão de desvendar. Sabe aquela descrição padrão dos estrangeiros para o Brasil? “Carnaval, caipirinha, Flamengo...”, pois na visão distorcida de alguns bra-si-lei-ros, toda a variedade cultural que diferencia Recife de Salvador ou São Luís de Teresina não passa de um bolo homogêneo, uma mistura de axé, forró, praias, sotaque engraçado e Dança da Bicicletinha, ofuscada sempre pela sombra da pobreza e da seca. É realmente difícil escapar de séculos de cobertura midiática negativa.
A vida no Nordeste de hoje é bem diferente da descrita em Os Sertões de Euclides da Cunha, livro reportagem de 1902. Há pobreza, sim, como há, ao seu modo, em todo o país. Mas há também guitarra, asfalto, esporte, turismo, indústria, música e internet. Como disse muito bem Karina Buhr nesse texto aqui, os brasileiros precisam descobrir os Nordestes, pois são vários e são lindos. A região tem previsão de crescimento de 7,5% no seu PIB para esse ano e sempre foi fonte de muita boa música, comida e literatura. Mesmo assim, a velha mídia encontra dificuldades em fugir do já sedimentado discurso de “pobreza e seca”, agora com variação para as enchentes.
No começo deste ano a Sportv fez um especial de uma semana com a judoca piauiense Sarah Menezes. A jovem de 19 anos foi eleita atleta brasileira do ano de 2009 depois de se sagrar Bicampeã Mundial Júnior de Judô sem nunca ter precisado sair de Teresina para treinar. Tinha tudo para ser uma vitrine positiva para a cidade, mas a repórter faz questão de iniciar a matéria com a idéia de que “em uma terra onde a pobreza e a fome dominam, Sarah Menezes resistiu e conseguiu vencer”. A menina é tratada quase como uma sobrevivente, uma espécie de milagre. Não são exatamente essas palavras, mas a mensagem é essa. Mensagem que beira o preconceito, diga-se de passagem. Se Sarah permanece em Teresina é porque a cidade lhe oferece condições para tal e não por algum tipo de concessão divina. Desse jeito fica difícil fugir dos estereótipos e fazer um cara do Sul, que só conhece o Nordeste pela televisão, entender que Teresina tem seus vários defeitos, mas também tem inúmeras qualidades, da mesma forma que imagino acontecer com Porto Alegre, Curitiba ou Florianópolis, mesmo sem nunca ter visitado essas capitais.
Às vezes me questiono se algum dia o Brasil vai de fato atingir uma unidade nacional. Fora a língua, a seleção de futebol e as referências comuns de quem cresceu assistindo a Rede Globo, o que mais une os brasileiros? Na minha primeira semana em Dublin conheci um gaúcho que defendia a separação do Rio Grande do Sul do restante do país, pois seu estado seria muito mais desenvolvido e pacífico que os demais. Ele falava sobre os casos de violência no Rio de Janeiro como se fosse um estrangeiro, aquilo não era problema dele. No meu segundo mês por aqui conheci uma paraense de Belém radicada em Fortaleza. A identificação foi imediata. Não havia pré-julgamentos ou surpresas. Ela pertencia ao mesmo Brasil que eu. É estranho dizer isso, mas foi essa a sensação.
Ps: Esse texto foge de qualquer generalização e é retrato de uma experiência pessoal. Da mesma forma que conheci gaúchos separatistas e muita gente bastante preconceituosa com nordestinos também conheci paulistas, gaúchos, paranaenses, mineiros, pernambucanos, enfim, brasileiros maravilhosos, curiosos e interessados em aprender mais sobre o Brasil. .
sábado, julho 17, 2010
Dublin, 2010
Há seis meses a idéia de dividir um apartamento com cinco paulistas e um francês em Dublin – cidade que eu nunca havia cogitado visitar - não faria o menor sentido. Como nada nessa vida faz sentido, aqui estou eu, longe dos sotaques e cheiros familiares, chorando por um prato de arroz e feijão. Enfrentando todos os dias essa coisa de sentir saudade.
Dublin é uma cidade com ares decadentes. Nas portas das igrejas seculares, mendigos balançam seus saquinhos de moeda demonstrando que a Europa real é bem diferente daquela exibida nas novelas da Rede Globo. Os tempos áureos se foram, a crise chegou, e outro dia fui surpreendida por um grupo de manifestantes bradando palavrões contra o FMI, a União Européia e o desemprego. Tão subdesenvolvido, não? Uma das coisas que você aprende quando sai de casa é que os problemas existem em todos os lugares, só são um pouco diferentes. Por aqui o sistema de ônibus funciona perfeitamente bem e não é raro encontrar cadeirantes circulando desacompanhados pelas ruas, todas adaptadas com rampas. Em compensação, é preciso prestar atenção por onde você pisa. Muitas áreas da cidade são sujas e por mais que a prefeitura se esforce em limpar parece nunca ser suficiente.
A Irlanda tem o quinto maior Índice de Desenvolvimento Humano [IDH] do mundo. Mas desde 2008 atravessa uma recessão cruel, com retração da economia e aumento considerável nas taxas de desemprego. A crise não impediu que muitas pessoas de diferentes partes do mundo continuassem chegando para arriscar a sorte no país, que mantém uma política bem receptiva aos imigrantes, oposto do que acontece na maior parte da Zona do Euro. Quem acaba de chegar tem de cara o desafio de conseguir trabalho no mercado bastante saturado de Dublin. Além desse problema e dos naturais obstáculos impostos pela língua, imigrantes também precisam ficar atentos aos knackers. Antes de desembarcar por aqui nunca tinha ouvido falar neles, mas demorou pouco até que fossemos apresentados. Os knackers são adolescentes de classe média que culpam os imigrantes pelos problemas do mundo. Ovos, palavrões, pedras, socos e pontapés são as armas normalmente utilizadas por eles para atacar forasteiros desprevenidos. No meu caso a experiência parou nas ofensas verbais, mas serviu para não me deixar esquecer que estou em terra estrangeira. Nada substitui a nossa casa.
Obviamente Dublin não é apenas um amontoado de problemas. Os knackers são uma minoria dentre a população, em geral simpática e comunicativa com quem vem de fora. A grande quantidade de imigrantes faz do centro da cidade um pólo cosmopolita que possibilita a convivência de orientais, africanos, latinos e europeus em uma rica amostra de diversidade. Muitas vezes, apenas caminhar sem destino e observar os passantes já é um grande lazer.
E ainda tem a música! O dia-a-dia em Dublin tem trilha sonora. Violonistas, guitarristas, saxofonistas e até orquestras inteiras disputam cada espaço vago nas esquinas da Grafton Street e Temple Bar para compartilhar uma variedade absurda de sons que vão te seguindo, se fundindo e se transformando enquanto você transita pela cidade. Esse hábito Irish virou até tema de filme: “Once” levou o Oscar de Melhor Canção Original em 2008.
Entre uma música e outra lá se vão quase três meses desde que coloquei os pés nessa cidade gelada, em que as máximas raramente ultrapassam os 20º e a chuva tem presença obrigatória na paisagem. Antes uma completa desconhecida, já estou familiarizada com as ruas, os prédios e o céu de Dublin, que nos dias de sol lembra o de Teresina. Só o que ainda mata é essa saudade.
Dublin é uma cidade com ares decadentes. Nas portas das igrejas seculares, mendigos balançam seus saquinhos de moeda demonstrando que a Europa real é bem diferente daquela exibida nas novelas da Rede Globo. Os tempos áureos se foram, a crise chegou, e outro dia fui surpreendida por um grupo de manifestantes bradando palavrões contra o FMI, a União Européia e o desemprego. Tão subdesenvolvido, não? Uma das coisas que você aprende quando sai de casa é que os problemas existem em todos os lugares, só são um pouco diferentes. Por aqui o sistema de ônibus funciona perfeitamente bem e não é raro encontrar cadeirantes circulando desacompanhados pelas ruas, todas adaptadas com rampas. Em compensação, é preciso prestar atenção por onde você pisa. Muitas áreas da cidade são sujas e por mais que a prefeitura se esforce em limpar parece nunca ser suficiente.
A Irlanda tem o quinto maior Índice de Desenvolvimento Humano [IDH] do mundo. Mas desde 2008 atravessa uma recessão cruel, com retração da economia e aumento considerável nas taxas de desemprego. A crise não impediu que muitas pessoas de diferentes partes do mundo continuassem chegando para arriscar a sorte no país, que mantém uma política bem receptiva aos imigrantes, oposto do que acontece na maior parte da Zona do Euro. Quem acaba de chegar tem de cara o desafio de conseguir trabalho no mercado bastante saturado de Dublin. Além desse problema e dos naturais obstáculos impostos pela língua, imigrantes também precisam ficar atentos aos knackers. Antes de desembarcar por aqui nunca tinha ouvido falar neles, mas demorou pouco até que fossemos apresentados. Os knackers são adolescentes de classe média que culpam os imigrantes pelos problemas do mundo. Ovos, palavrões, pedras, socos e pontapés são as armas normalmente utilizadas por eles para atacar forasteiros desprevenidos. No meu caso a experiência parou nas ofensas verbais, mas serviu para não me deixar esquecer que estou em terra estrangeira. Nada substitui a nossa casa.
Obviamente Dublin não é apenas um amontoado de problemas. Os knackers são uma minoria dentre a população, em geral simpática e comunicativa com quem vem de fora. A grande quantidade de imigrantes faz do centro da cidade um pólo cosmopolita que possibilita a convivência de orientais, africanos, latinos e europeus em uma rica amostra de diversidade. Muitas vezes, apenas caminhar sem destino e observar os passantes já é um grande lazer.
E ainda tem a música! O dia-a-dia em Dublin tem trilha sonora. Violonistas, guitarristas, saxofonistas e até orquestras inteiras disputam cada espaço vago nas esquinas da Grafton Street e Temple Bar para compartilhar uma variedade absurda de sons que vão te seguindo, se fundindo e se transformando enquanto você transita pela cidade. Esse hábito Irish virou até tema de filme: “Once” levou o Oscar de Melhor Canção Original em 2008.
Entre uma música e outra lá se vão quase três meses desde que coloquei os pés nessa cidade gelada, em que as máximas raramente ultrapassam os 20º e a chuva tem presença obrigatória na paisagem. Antes uma completa desconhecida, já estou familiarizada com as ruas, os prédios e o céu de Dublin, que nos dias de sol lembra o de Teresina. Só o que ainda mata é essa saudade.
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