quinta-feira, setembro 09, 2010

Sobre o tempo

Para ler ao som de Janis



Em Dublin, ninguém está parado. Há pressa por todos os lados e cada calçada parece integrar o percurso de alguma mini maratona. Não sei exatamente qual a razão para tanta ansiedade [ o frio poderia ser uma explicação aceitável], mas a verdade é que quase diariamente me vejo  ultrapassada por alguma velhinha sexagenária enquanto caminho a passos tranqüilos para a escola. Essa correria cega, tão presente nas ruas da cidade, se transfere também para os relacionamentos. Por aqui, amizade acontece de um jeito diferente. 

Todo o protocolo conhecido e registrado em memória para estabelecer o que se definiria como “amigo” precisa ser revisto e drasticamente reduzido ao primeiro sinal de que não há tempo a perder. Em Dublin, ninguém está parado e as despedidas se multiplicam.  O ciclo de chegadas e partidas é mesmo interminável, a solidão bate forte para todos e um time de futebol ou aquela banda preferida em comum podem ser motivo suficiente para alguém colar em você.

No fim de julho a turma da escola organizou um passeio para o Festival of World Cultures em Dun Laoghaire, um pequeno centro no entorno de Dublin. O nome do festival era bem condizente com o nosso grupo, uma reunião de gente de diferentes países tendo o inglês democraticamente estabelecido como língua oficial. Os poucos tropeços na comunicação não impediram ninguém de aproveitar o sábado de sol, clima agradável que era comemorado como conquista de campeonato pelos locutores do evento. A ida a Dun Laoghaire me apresentou a espanhola Maria, estudante de Medicina que sofre de uma séria antipatia por moradores de Barcelona e, ao contrário do que o senso comum poderia imaginar, detesta paella. Também tinha o Jerzy, polonês boa praça que desanca a idéia de frieza e distanciamento que costumamos associar às pessoas do Leste Europeu. Magalie era nossa ponta africana no grupo. Cidadã belga, os pais abandonaram o Congo antes do seu nascimento. Apesar da formação em Serviço Social, ela gostaria mesmo era de trabalhar com literatura infantil. E havia o brasileiro, claro. Icamaan é um soteropolitano radicado em Recife e com um orgulho de ser nordestino que é coisa bonita de se ver. 

Dia desses uma fotografia levou-me de volta ao nosso sábado de sol em Dun Laoghaire e só então percebi que, em pouco menos de um mês, já me despedi de todos os meus companheiros de viagem. Nosso momento passou e, sem querer subestimar essa coisa linda chamada Facebook, as chances de eu encontrar quaisquer dessas pessoas novamente são quase inexistentes. E aí que entra o lance do tempo, palavrinha chave nesse texto. Quando se está em trânsito, com prazo vencendo e passagem marcada para voltar à vida real, você aprende a valorizar essa coisa de encontro e de troca, de riso e de empatia. É o get it while you can, baby, porque o tempo não pára.

Semana passada, mais uma despedida. Chegou a vez do Benjamin, francês com quem dividi apartamento por mais de três meses e que compartilhava comigo o gosto por cinema e pelos escritos de George Orwell. Na hora do adeus, um abraço e os desejos de “Have a good life”. E a vida que segue, já com um novo flatmate devidamente instalado em seu lugar. Em novembro, Teresina fica mais perto e será a minha hora de dizer adeus, bye bye so long far well. A roda continua a girar.

2 comentários:

Natalia Vaz disse...

Não me conformo dos teus planos terem sido só pra 6 meses. Não me conformo e tenho dito!

Anônimo disse...

global demais, essa minha amiga Poty, nã! =) bjão!!
Fyb